quinta-feira, 15 de abril de 2010

Lupa da Inconsciência


Sou Inconsciente do que não vejo.
Se nada vejo sem a minha lupa, como me posso eu ver?
E se não me vejo nunca sem ela, sou desprovida de humanidade sólida.
Consagro-me unicamente com ela, torna-se parte do meu corpo.
Um objecto ser parte de um corpo é uma linhagem de imperfeição recorrente.
Que traição do Criador...
Bebo tudo o que me ensina a criar e contrario o meu hábito desfazendo-me em experiências até chegar ao tal caos da loucura metafórica.
Uma gota de sangue faz-me voltar à vida...mas será que ainda lá estou?
Olho o efeito anónimo da eterna poção da imaginação e deslumbro-me com o resultado inimaginável de atenção...observação...descoberta.
Só a minha lupa me podia ter feito descobrir o que vi.
Lamento a consequência impotável e absorvo o que jaz de mim.
Mas não julgo, bebo mais...
E lamento o resto.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cigarro


Olho para o cigarro oscilando entre a beleza e a rudeza...
Pousado no cinzeiro de vidro frágil, as suas cinzas de mármore corroem o papel de linho.
Vejo o fumo dançar e formar maravilhas. Bailarinos, animais, poetas,...até mesmo letras.
Tão solitária fico quando o aperto entre os dedos gastos, que o deixo ali...
Volta a ser um energúmeno e a gritar por mim.
Pelos meus lábios a tomarem-lhe a forma, pelo seu sabor se misturar no meu gosto...
Ele deseja-me...e eu a ele.
Mas para mim simboliza a tristeza, a melancolia...
Seguro então nele...uma lágrima de afeição rola pela minha pele azeda e mergulha no meu peito.
Deu-se a cópula da ambição.

Esquilo Contrariado


Seu semblante é rude, mas seu tamanho faz de si um aperitivo.
Sentada com meus ouvidos, vejo-o encarnar a personagem de uma fera, depois de um peixe, depois de uma serpente flamejante...e retornar a si.
À sua sombra de um esquilo perpétuo.
O esquilo está contrariado.
Ele e as suas mãos ímpias.
Soluça e mantém-se firme.
E seu acto peremptório faz jus à sua destreza militar.
No seu punho livre encontra-se um jasmim...um jasmim cromático. Multi-cromático.
Chuto então esse esquilo contrariado e mimado e rogo-lhe uma praga de amor.
Determinei o seu futuro dourado...

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Cruz Que Me Leva


É essa a cruz que me leva daqui para fora.
Empurra-me, arrasta-me e escarra na minha cara.
Pilhas e pilhas encontram-se ao meus pés...mas eu recuso tudo isso.
Recuso o meu parecer.
Invisto então na minha flamância pessoal e entrego-me ao meu vestir.
Ela tenta imiscuir-se nos meus actos, mas eu proíbo tal acto e rebento a cruz que me leva.
Posso confessar-te a mim e triturar os meus ouvidos com mixórdias de palavras inúteis.
Mas a caçarola que está em cima da lareira permite a minha detenção...
Ela faz ruir a madeira...
Eu faço estalar o ferro!

domingo, 4 de abril de 2010

Desejos Paralelos


Encontro-me entre desejos que diferem em sentidos opostos, mas tão semelhantes.
Observo uma grade presa num cubículo de afeição literária e amarro-a com as correntes do prazer.
Livre e solta ajo sem consequências, com a eterna desculpa da juventude em flor...
Sonho o que desejo, faço o que pretendo desejar e já nem sequer penso no que me fez agir...
Agora...tomando consciência: Quero mais pecados.
Quero os meus desejos paralelos realizados ambiguamente.
Quero um amplexo de tudo o que agarrei e o desprezo do amante caído.
Debruçar-me-ei sobre o meu regaço olhando meus infinitos braços de âmbar reluzente e perseguirei os meus traços.

Prostituta intelectual...é o meu desejo paralelo. Qual será o meu?