terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Véu


O véu que eu criei lançou-me nesta soturna tempestade de remorso.

Aquele véu que não me protege, mas que me acolhe na mentira jocosa.

Vejo-me assim: vestida de louvoures mas despida na solidão de permanente contacto humano, com o meu véu que oscila em desabridas cores de vaidade e petulância.

Vejo-me assim, mas revejo-me no espelho que me cobre o véu do rosto.

E nesse espelho há um corvo.

Um corvo preto com bico e patas de prata polida em vão.

Olho o infeliz pássaro que me vem entregar o véu. O odioso véu do orgulho. Da culpa. Da insensatez.

E como num silêncio, ele cobre-me.

Escondo-me assim, para não mais me ver.

Agora encontro-me tão só, que nem uma inteira população me ouvirá.

O adeus é desnecessário, porque não há a quem o pronunciar.

1 comentário:

  1. "O adeus é desnecessário, porque não há a quem o pronunciar."

    disseste tudo... esta frase... é tão, tão forte, e tão verdadeira. amei.

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