terça-feira, 24 de novembro de 2009

Lua


A lua, aquela fogaz curiosa que sabe tudo o que faço. Tanto tempo que espera por alguém que a ame, mas em vão se pavoneia com o seu ar sobranceiro de mistério puro e incoerente.

A lua, a melhor amiga e a pior das falsas. Aquela que me acolhe e me ouve quando preciso de libertação mundana, mas aquela traidora que me dá desonestos conselhos.

Lua, lua, lua. Nome belo e amaldiçoado. És a decadência pura da humanidade mas a perfeição só pode provir de teus montes encrostados no meu peito.

Embora não tenhas essa profundidade que aparentas, teus olhos choram lágrimas de constante desalento. Esse frágil grito de agonia que me envias, cortante e sem poeira, faz-me conhecer o que mereço.

Obrigada Lua, mas estou farta de perseguições. Digo: Não te concedo o dia.

Não posso fugir de ti, porque me olhas a nuca, aquela infeliz coitada que não existe sem sentir. Mas, embora corras atrás de mim, eu irei amar-te, no dia do começo e de meu nascimento.

Volto e não mais vou dar-te devaneios tristes desta criança perdida que se há de encontrar.

Adeus Lua. E quando te reencontrar, dar-te-ei um desejado beijo de desprezo.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Lady MacBeth

"Ainda há aqui uma mancha.(...)Sai, maldita mancha. Sai, desaparece. Uma, duas... está na hora de o fazer. O inferno é sombrio. Ora, meu senhor; vós, um soldado, com medo? Porque havemos de ter medo de que outros o saibam, se ninguém pode pedir contas ao nosso poder? Quem diria, porém, que o velho tinha tanto sangue dentro dele?(...)O barão de Fife tinha uma mulher - onde está ela agora? Mas será que estas mãos nunca mais hão-de ficar limpas? Parai com isso, meu senhor, parai com isso. Pondes tudo em risco, com esse vosso medo.(...)Aqui ainda cheira a sangue. Nem todos os perfumes das Arábias conseguirão camuflar o cheiro desta minha mão. Ai de mim!(...)Lavai as mãos, vesti o robe, não estejais tão pálido. Repito-vos: Banquo está morto, e não pode sair do seu túmulo.(...)Para a cama, para a cama. Estão a bater à porta. Vamos, vamos, vamos, dai-me a vossa mão. Não podemos desfazer o que está feito. Para a cama, para a cama, vamo-nos deitar."

Sou eu?


Sou eu? Este vulto de pura mentira que escarnece sem se aperceber?

Sou eu? Esta velha e eterna criança que desliza ao encontro do erro?

Será que eu sou o que vejo ou o que vejo é de tal modo turvo que me faz desentender tudo?

Quando defino um acto da minha vida, passados nem mais que cinco contornados segundos, a ideia volta a evaporar-se no vazio do meu sentimento e começa a tomar uma disforma ensurdecedora.

Que agonia este não saber o que sei que sei.

Voltando-me para mim faço o reencontro sem tecer novas linhas, pois elas se tecem na solidão da sua magia...

Sou eu? Esta sombra fascinante que não fascina quem penetra?

Serei mesmo eu?...Só se existir!

domingo, 15 de novembro de 2009

Menino

Menino que vestes os óculos do teu sagrado segredo. Porque o fazes nessa tua simplicidade nua?
Terás tu uma complexidade superior ao meu ambíguo pensamento?
Vai menino, vai! Corre em direcção à tua realidade despida de conceitos pré feitos.

Gaivota


Olho as penas de uma gaivota defunta e vejo nelas o desejo de paz.
Ela está feliz, ali, caída, olhando a terra sem a ver.
Invejo-a por poder olhar a beleza e não ver a distorção em que viveu.
Porquê esconder os defuntos longe do olhar humano quando o único momento feliz que eles podem ter é esse? Olhar o mundo sem o ver...
A gaivota voa pela primeira vez. Agora sim, ela pode ter direito à liberdade que corresponde à verdade.
É a prima sorte.

Crio?

Criar sem chorar, será possível?
Em ambundância faço meus devaneios loucos
sem expressão a meus olhos
Básicos, vindos do nada que habita o tudo.
O ciclo sempre constante repete-se.
Não é por falta de experiência ou atenção, mas as minhas mãos já não choram palavras vindas do meu mundo lógico que se interioriza na beleza do nada e complica o vazio.
Ah, estou farta de contradições que não terminam...