quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Simplificando

É complicado o agir.
Ao invés do pensamento que é complexamente simples.
Então visitei a tua casa. A vossa casa.
A mobília era, à primeira vista, diferente da minha.
Mas quando vi realmente os pormenores, encontrei-os tal e qual os meus.
E então, simplificando, cheguei por meios mais equilibrados, à mesma conclusão.
A prima vez, revolvi emocionalmente as tuas (vossas) baixezas.
Agora, hoje, ontem e amanhã, alcancei a tua (vossa) posição.
Simplificando...Sou isto tudo em balanço com tudo aquilo.
Mas (ah sim, o tão esperado e odiado mas!), mas, feliz ou infelizmente, pouco me interessa agora (agora, hoje, ontem e amanhã), só terás (terão) a minha essência e aura no momento de aceitação.
O que, simplificando, significa que isto tudo que eu sou tem que ser adorado para não se sobrepor ao tudo aquilo que de mim nasce.
Inversamente ao que quero conseguir, prefiro os cegos que não atingem nada disto.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Crueldade

A crueldade vem das diferentes prespectivas.
Cada um sonha da sua forma
Cada um vê da sua janela
Cada um imagina do seu partido
Mas cada um vê diferente
E a crueldade transforma-se em absorção de erros
Erros para um
Certezas para outro
Alimentamo-nos da crueldade pacífica
Vivemos da crueldade passiva
Amamos devido à crueldade activa
É um bando de seres contorcendo-se na sua busca
A orgia em busca do amor
Que encontra a crueldade
A crueldade mascarada de amor
Odeio o que invejo
Invejo o que amo

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

tenho saudades tuas...

Não queria nada voltar a passar o que passei
Não tenho saudades nenhumas do que passei
Mas tenho tantas saudades tuas

domingo, 21 de novembro de 2010

Plásticos

Sociedade mesquinha que se alimenta de preconceitos.
Rejeito-os e vivo neles.
Andarmos despidos e protejermo-nos do frio com mantos.
Antigirmos o amor puro.
Não sermos identificados com rótulos de um cartão bege de plástico.
O plástico do B.I. é o que nos envolve como pessoas.
Somos plastificados à nascença.
Morremos, e renovam o nosso plástico.
Unicamente por mera estupidez.
Devoradores de preconceitos.
Não há Homens, há Plásticos.
A mente quer fugir.
Raciocíno para o lado oposto.
Sou naturalmente optimista mas o pessimismo parece-me necessário.
Esperei tanto por isto.
Queria situar-me assim.
E agora estou incógnita, parada.
Desejo a energia e aura que sei que não sei se tive.
Quero restaurar-me e aproveitar-te para isso.
Mas impede-me constantemente o não sei quê de imagens, sons...
Queria divertir-me, jogar e brincar contigo.
O que é que não é?
Desenvolvo, estagno ou retraio-me?
E aí vou eu...
Olá sofrimento inevitável.

Oculta

Minúsculos enfermos rodeiam e penetram e encerram os meus olhos.
Sou uma câmera oculta de corpo, voz e nada.
Gigantes vermes da pura energia matinal inexistem e coabitam e empurram a minha boca.
Sou uma representante de enigmas, contradições, lógicas.

Posso?

Posso desconcentrar-me da desconcentração?
Posso poder revoltar-me como parece?
Posso fugir da tristeza que me persegue?
Posso fazer amor com a vida?
Posso olhar para ti e ver-te ver-me?
Posso gostar daquilo desprezando?
Posso voltar a ser um íman de vida?
Posso ter prazer com o prazer?
Posso amar e revoltar?
Posso parar de pensar em amor?
Posso conseguir?
Posso poder?
Posso?
Contradiz-se a palavra sozinha...

sábado, 20 de novembro de 2010

Desarrumação

Quanto melhor corre. Quanto melhor é.
Eu não consigo ficar bem! Melhor. Bem.
Dói. Tanto.
Não sei o quê. Não sei onde.
Só queria que corresse bem e fosse melhor aqui.
No sítio onde ninguém vai.
Para onde ninguém viaja.
Nem eu viajo...
eu procuro e navego e perco-me.
Que desarrumação!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sobe e Desce


Pequenina e frágil subia bruscamente e descia levemente no baloiço.
Era na maior parte das vezes no café vila faia, enquanto os avós tomavam o seu café das onze.
Saudade dessa sensação, que me elevava no ar e tudo era fácil.
Queria poder congelar aquela sensação e o momento e agora mergulhar nele horas, dias, até anos.
Mas encontro-me no mesmo sobe e desce. Mas agora, subo levemente e desco ainda mais bruscamente do que subia.
Farta das lágrimas de não sei quê. Farta do vazio de não sei quê.
Quero rir da ironia do que me rodeia. Parece que sou a única espectadora de uma comédia sem fim. Que ridículos que são todos.
Mas o que eu dava para estar ali com eles. E ser ridícula como eles. Ainda mais ridícula.
Mas quando me levanto para fazer parte da comédia, só consigo ser triste.
Quando estou feliz sou triste.
Mas a minha tristeza é heróica.
O que é mais frustrante é que sinto-me assim sem o ser.
Devo ser o maior palhaço de todos.
Nao vivo, nem sobrevivo, nem procuro viver.
Estou. Sou.
Sou nada.
Vocês são todos ainda mais ridículos do que parecem!
Quero dar gargalhadas. Estão presas.
AHAHAHAHAHAH!
E agora sei que ridícula sou eu.
Deve ter sido o riso. Com gosto, o diafragma a contorcer-se para fora e para dentro até doer!
Acho que já estou morta!
Vocês veêm fantasmas! Percebem o ridículo que é o vosso raciocínio?
Não...são ridículos.
Estão parados lá em cima ou lá em baixo.
Eu subo e desço.

sábado, 2 de outubro de 2010

Ilusão


Próxima paragem: ilusão.
Ilusão de cores.
Ilusão de países.
Ilusão de imagem.
Ilusão do ser.
O ser é o castigo.
Tudo é um castigo.
Mas eu sinto-o.
E digo demasiadas vezes a palavra eu.
É um eu misógino, não se enganem.
Pudesse a minha instância torturar-me menos.
Idolatro o que sou.
Desprezo o que faço.

Cegueira


Eles veêm-me porque são cegos.
É uma cegueira cruel.
É a cegueira propositada.
É aquilo que me traz a tão querida ingenuidade.
Olham-me incessantemente, mas ainda não me viram.
O fascínio torna-se rapidamente em absorção de atitudes.
Mas ajo por querer abraçar.
E eles abraçam-me sem me tocarem.
Mas não atingem, não veêm...
Porquê eu? Até eu!

Refúgios

Compreendo-me inconstante e engano o meu psíquico lenta e degravelmente.
Mas vou encontrando refúgios.
Refúgios apaixonados, momentâneos, fúteis.
"Não acordes mais!"
Peço eu incansavelmente e mais uma vez acordo a flor primitiva.
É uma flor dolorosa, quem vem e vai sem se despedir.
Mas a despedida é tão necessária para perdurar a mentira...
E encontro e desencontro...e vou encontrando.
Mas ela acaba por me encontrar a mim.
Mim. Eu. Mim?
Eu gostava era que....

domingo, 29 de agosto de 2010

A companhia compra-se


Editei o precurso rotinal que latejava sonoramente aqui.
E procurei e descobri e encontrei o que não esperava que esperasse.
Caí no mesmo contínuo erro de esbofetear a calma e perdi-me no meu rápido mar de emoções.
Encontrei o que queria. A atenção necessária para fazer o meu espectáculo.
Mas esqueci-me dos ensaios...
Cheguei ao fim na expectativa de ter mais para dar e na mesma ilha de remorso descobri que nao tinha.
Então deixei-me levar na onda de companhia segura, raras vezes conseguindo encontrar algo brilhante outra vez.
Mas pela vigésima quinta ( e meia) vez tive de comprar o momento.
A companhia compra-se e a amizade contrói-se com base nessa compra.
É por isso que nós assassinamos tudo com vida.
O meu maior defeito vai-se revelando cada vez mais prejudicativo.
"Temos de ser pacientes.
Mas eu não posso parar de chorar quando penso que o deitaram no frio da terra."

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Razão (in)razoável


Não sei o que significam estes pequenos meteoros que flutuam na minha mente.
A razão é algo que se adquire formalmente, mas tudo tem os seus necessitados prismas.
Tenho fardos e identifico-os sempre diferentes.
Há um certo que se transforma em errado e acontece um descontrolado vice-versa.
Mas continuo a odiar a vida tanto quanto a amo.
Tudo são momentos e é esse o errado que está certo.
Se não há certezas, quais são as crueldades?
O tempo inexistente é que responde correctamente às mentiras que inundam as verdades.
Sinto. Vejo o que devo sem dever.
Sinto. É tudo sentido interiormente nas modestas cores que viajam sem discussões.
Há.
Sou uma espectadora e uma participante tão activa quanto inactiva.
Receio.
Os fantasmas ouvem e têm as suas conformadas opiniões.
Amo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Deslocação

Em todas as praias eu fico, acompanho e ligo-me a todos os mares.
Mas não pertenço a nenhuma. Adormeço em todas e crio um ódio sem diagnóstico.
Estarei numa mais um tempo limitado e descobrirei o meu destino através dela.
Sinto falta nem sei do quê. Do pontinho verde lá no fundo. E do auge de mim.
Mostro o que não sou e limito o que sou.
Então penso na praia em que estou e adormeço.
É uma deslocação constante a que obedeço.
As minhas costas imaginam um mapa do mundo que vou descobrir.
Olá Mundo.
Adeus Praias.

sábado, 19 de junho de 2010

Prostituta de Ingenuidade


Contradigo-me e contradigo-me e continuo com prazer a contradizer-me. Sem que ninguém. Ainda. Me perceba e ame dentro das minhas contradições lógicas.
Só não compreendes que são lógicas.
Só não tentas descobrir qual a sua lógica. Nem queres, eu sei.
Mas se visses com atenção. Se me visses com os olhos desprendidos de preconceitos pseudo informais, convidar-te-ia a entrares num mundo de noções de tanto. Tanto. Só.
Se ainda a minha prostituição fosse sábia.
Se não tivesse Júpiter a impedir a minha consciência de mergulhar bem fundo sem me puxar e arrancar os cabelos inundados.
Só queria que Marte substituisse os anéis. Poucas vezes. O necessário.
E sendo esta prostituta de ingenuidade, encontro uma luta de prazeres.
Ai. Nunca. Submissão.

Indiferença


Sou frágil. De vidro. Ou cristal. Mas o mais leve toque faminto leva à destruição em pedaços fingidos.
O toque da maldade é-me familiar e prolonga o mal estar de curiosidade que me aproxima da vivência mortal. Cada vez mais mortal.
O empurrão de inveja faz-me inventar um novo ser ambíguo.
A mão falsa proíbe-me de ser quem sou.
Todas estas quedas eu experimentei. Tive o prazer de as receber dignas e indignas.
Mas. Mas. Mas o toque da indiferença subjuga-me a um lugar cheio e imenso de sombras e escuridão vazia. A indiferença fere e faz a fragilidade, o vidro, o cristal dividir-se em bocados angustiados.
Mas. Mas. Mas faz crescer uma sede de maldade, inveja, falsidade e na base superior, a vingança. A pura vingança de inimizade crua.
Sinto-a sem a poder recuar. Quero sentir a aclamada indiferença também. Mas é o sentimento que não perdura. Que não sei. Que não sei. Só sem saber.
E aqui fico numa encruzilhada de um dilema pronto a abastecer o caos.
Posso concluir. De duas formas inimigas.

domingo, 2 de maio de 2010

Procura Eterna


Hei-de seguir e procurar e sair frustrada e sei que nunca encontrarei.
Sairei desta procura eterna no dia do juízo final e jurarei não cometer rotina!
Viajar é uma palavra diminuta. Não viajo. Vivo. E a constante de outros povos e dessa surrealidade extremista é o que me faz escorrer lágrimas de anseio. Puro anseio.
Procuro viver, procuro ser todos os dias uma Ana diferente. Procuro ser o que não sou e exprimir o que sou.
Hei-de sempre procurar o limite do pior e do abusivo. Hei-de sempre procurar o crime e a minha actuação primitiva.
Mas apesar de desejar tão ostensivamente tudo isto, tenho um medo sombrio das minhas próprias mãos.
Apavoro-me com os meus sonhos e a minha obcessiva tendência para os extremos.
Reconheço o irreversível.
Continuarei a minha Procura Eterna.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Lupa da Inconsciência


Sou Inconsciente do que não vejo.
Se nada vejo sem a minha lupa, como me posso eu ver?
E se não me vejo nunca sem ela, sou desprovida de humanidade sólida.
Consagro-me unicamente com ela, torna-se parte do meu corpo.
Um objecto ser parte de um corpo é uma linhagem de imperfeição recorrente.
Que traição do Criador...
Bebo tudo o que me ensina a criar e contrario o meu hábito desfazendo-me em experiências até chegar ao tal caos da loucura metafórica.
Uma gota de sangue faz-me voltar à vida...mas será que ainda lá estou?
Olho o efeito anónimo da eterna poção da imaginação e deslumbro-me com o resultado inimaginável de atenção...observação...descoberta.
Só a minha lupa me podia ter feito descobrir o que vi.
Lamento a consequência impotável e absorvo o que jaz de mim.
Mas não julgo, bebo mais...
E lamento o resto.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cigarro


Olho para o cigarro oscilando entre a beleza e a rudeza...
Pousado no cinzeiro de vidro frágil, as suas cinzas de mármore corroem o papel de linho.
Vejo o fumo dançar e formar maravilhas. Bailarinos, animais, poetas,...até mesmo letras.
Tão solitária fico quando o aperto entre os dedos gastos, que o deixo ali...
Volta a ser um energúmeno e a gritar por mim.
Pelos meus lábios a tomarem-lhe a forma, pelo seu sabor se misturar no meu gosto...
Ele deseja-me...e eu a ele.
Mas para mim simboliza a tristeza, a melancolia...
Seguro então nele...uma lágrima de afeição rola pela minha pele azeda e mergulha no meu peito.
Deu-se a cópula da ambição.

Esquilo Contrariado


Seu semblante é rude, mas seu tamanho faz de si um aperitivo.
Sentada com meus ouvidos, vejo-o encarnar a personagem de uma fera, depois de um peixe, depois de uma serpente flamejante...e retornar a si.
À sua sombra de um esquilo perpétuo.
O esquilo está contrariado.
Ele e as suas mãos ímpias.
Soluça e mantém-se firme.
E seu acto peremptório faz jus à sua destreza militar.
No seu punho livre encontra-se um jasmim...um jasmim cromático. Multi-cromático.
Chuto então esse esquilo contrariado e mimado e rogo-lhe uma praga de amor.
Determinei o seu futuro dourado...

terça-feira, 6 de abril de 2010

A Cruz Que Me Leva


É essa a cruz que me leva daqui para fora.
Empurra-me, arrasta-me e escarra na minha cara.
Pilhas e pilhas encontram-se ao meus pés...mas eu recuso tudo isso.
Recuso o meu parecer.
Invisto então na minha flamância pessoal e entrego-me ao meu vestir.
Ela tenta imiscuir-se nos meus actos, mas eu proíbo tal acto e rebento a cruz que me leva.
Posso confessar-te a mim e triturar os meus ouvidos com mixórdias de palavras inúteis.
Mas a caçarola que está em cima da lareira permite a minha detenção...
Ela faz ruir a madeira...
Eu faço estalar o ferro!

domingo, 4 de abril de 2010

Desejos Paralelos


Encontro-me entre desejos que diferem em sentidos opostos, mas tão semelhantes.
Observo uma grade presa num cubículo de afeição literária e amarro-a com as correntes do prazer.
Livre e solta ajo sem consequências, com a eterna desculpa da juventude em flor...
Sonho o que desejo, faço o que pretendo desejar e já nem sequer penso no que me fez agir...
Agora...tomando consciência: Quero mais pecados.
Quero os meus desejos paralelos realizados ambiguamente.
Quero um amplexo de tudo o que agarrei e o desprezo do amante caído.
Debruçar-me-ei sobre o meu regaço olhando meus infinitos braços de âmbar reluzente e perseguirei os meus traços.

Prostituta intelectual...é o meu desejo paralelo. Qual será o meu?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Genuinidade Escondida


Querendo transbordar o meu copo de honestidade livre, conduzo-me à absolvição do que faço.
Traindo-me sob a futilidade ofuscante de uma lunática flor, divago os meus sentimentos por preconceitos formados por outrem.
Encontro-te ali, vejo-te e observo os teus mais pequenos passos...e no entanto, esgotas-me sem moveres sequer o olhar contra mim.
Respirando o pó firme, enojo-me da falsidade pungente e danço e voo e canto e liberto o meu genuíno.
Aqui sou, ali serei e acolá fui.
A minha genuinidade foi escondida...
Desvaneceu-se em fumo branco benzido...é esse o problema.

domingo, 14 de março de 2010

Descuido

Avisei-me para não captar a linear proposta de ritmo, mas descuidei-me...
Se a falsa beleza atrai, o costume devia ser retardá-la.
São sempre os mesmos que me roubam tudo apenas com o olhar.
E eu volto a cair, volto a descuidar-me.
Sempre sabendo que a minha sombra será enganada e enganada e enganadíssima.
Assim recusar-me-ei a sacudir do ventre a mulher amada e castigar-me-ei pela tentação caída.
Sóbria e insensata, deverei proteger-me nunca me protegendo.
Sofrerei...sempre descuidada.

sábado, 13 de março de 2010

Espelho


Olho. Vejo. Revejo. Imagino. Acredito. Minto. Volto a rever.
Há um furto ímpio de tudo o que sou.
Suga-me todas as minhas possíveis ambiguidades e desfaz-se num semblante lamentoso...
Hei-de jazer e voltar a encontrar-me lá...
Vês tudo de mim, mesmo o que eu não vejo.
Roubas o meu olhar e deixas-me vazia, sem nada, sem pudor, sem tristeza, sem regalias...
Dentro de ti sou um mero servo nesta liturgia que é estar.
Estava. Por tua causa...deixei de estar.
E agora não sou mais.
És o mais vil da existência.
Temo-te, respeito-te.
Mas repugno-te.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sonhei?


Acho que sonhei!
Acho que o passado foi um sonho inacabado e real em todo o seu esplendor.
Verto lágrimas de saudade...
Mas a falta que sinto delas, deles, das palavras inimigas, da nuvem boémia que via dia a dia a afastar-se, é real.
Vejo as imagens reais das emoções imperdíveis de vida inconstante e ainda assim, não creio.
A minha fé afastou-se...
Era a minha vida.
Era parte de mim.
Era um conjunto harmónico de linguagem única.
Era a metamorfose de corpos e almas unidas.
Desconhecidos eram irmãos.
Vencidos eram vencedores.
Era uma corrida a um prémio que todos ganhámos.
A inalcançável entrega total à nossa música enebriada de embriaguez.
E nós (eu pertenci...) atingimos o inalcançável.
Um mundo inaudível, imperceptível, desconhecido...
Eu conheci-o, fiz parte dele...
E agora...não acredito.
Vejo apenas uma névoa de um sonho.
E só preciso de vos voltar a ter no meu corpo, te ouvir os timbres uníssonos.
Mas até isso parece agora inalcançável.
Só preciso de olhar para a mesa, ver os copos com o vinho escuro a dançar ao ritmo do som do mais puro laço.
Ver os cigarros emanarem um fumo atento e perpétuo...
Ver as guitarras abraçarem-nos com a intensidade mágica que conhecemos.
Ver os cabelos desgrenhados abanarem nos movimentos corporais distintos...
Ver os lábios negros do vinho agonizarem as palavras e moldarem o seu som.
Mas descrevo um sonho...

Foi verdade?
Ou...sonhei?




segunda-feira, 8 de março de 2010

(imensamente) Chuva


Se me encontro resguardada no (imensamente) meu peculiar refúgio, sinto a música que esta chuva me faz encontrar.
Admito a sua fraqueza, mas venero-a no seu esplendor, quando atinge o clímax.
Esmagadoramente revejo-me nela e crio expectativas ensurdecedoras...
Atira-me com a vegetalização atmosférica que presencia e faz-me desejar um abraço seu...Mas vem tão enfurecida que recuo.
Recostada no leito, entronizo esta bem-amada aventureira mas relambória habitual.
E observo a caterva de gotas tingidas de um bordeaux preliminar.
No meu casulo desenho três lágrimas de aflição.
Resta regozijar-me no pranto...
Rendo graças por me embalares querida chuva!

domingo, 7 de março de 2010

Luz de uma Vela


Observo apaticamente o tremelicar de uma ofuscante vela...
Tem a base de barro cuidadosamente Português e é antiga...
Essa mesma base de apoio comum está suja de cera dura que se desfaz melancolicamente nos meus enebriados dedos...
Brota melancolia e o seu fervor é a transmissão de uma troca de palavras boémias.
Abre-se uma janela ou porta ou alguém respira com mais entusiasmo e ela estremece...por ser tão fraca. Tão sensivelzinha e obtusa.
Uma nota soa no fundo e ela escurece de amargura.
Assim, como uma traça nocturna, ela pode voar...e arreliar.
Encontro-me rodeada de almas, corpos e palavras. Mas estou mais só do que alguma vez estarei.
E a culpada é essa luz que me ofusca.
Essa vela que chora comigo e sente com todos.
O meu egoísmo revela-a minha.
Um sopro. O apagão dá-se.
Farei as minhas revelações...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Quero mais de muito menos!

Os desabafos escritos de maneira complexa e imperceptivel são a máscara que uso. Mas preciso de mais do muito menos...estou farta de me nivelar por cima, porque é que sou tão convencida ao ponto de escrever merdas assim? Vou continuar a fazê-lo...mas só para o meu ego, porque são hipocrisias para orgasmos intelectuais forçados.
Eu sou só eu. Sou o cúmulo da pita comum. E sendo assim...mando um fodasse bem alto para estas falsidades de carácter. Que merda é esta? Falsidades de carácter? Que snob! Eu ainda agora comecei a viver..,ainda agora comecei a acreditar na vida e na morte...putas das palavras que olham para mim como escárnios. Nojentas. Vão todas para o caralho! Eu estou aqui, quero escrever assim e ponho-me com merdas intelectuais. Quero passar a ser básica? Quero mais do básico...Quero mais de muuuuuuito menos!

Escombros

Nesses poéticos escombros me enlaço...vinte e três vezes cortada nas nuvens de sal grosso.
E encontro-me aqui, sem braços que me elevem ou correntes que me deêm esse precioso impulso atractivo.
Leio as páginas de um livro queimado e lamacento de um velho pescador e choro por não mais me erguer destes escombros perdidos.
Ao entrar na remessa de perdição, acolhem-me os violentados pedaços de madeira.
Resta respirar até onde for a água do mar e fitar esses maltratados eleitores.
Assim...cairei petrificada e aí se alçará a minha roseta pessoal com a inscrição prevista: Aqui jaz...só mais uma pessoa. Só mais uma vida.
Assim, na minha insignificância, me verei entre os demais. Porque até os grandes...são só mais uns.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ironia...

Se na minha vida tudo se tranforma ironicamente e acaba por se revelar ridículo...só eu é que o vejo.
Tenho a ruptura de imaginação que me faz ter a arrogância necessária para me defender do pânico presente, mas entrego-me com tamanha facilidade de humor e empenho de carácter que acabo por cair frágil e desprezada.
E tudo isto se torna irónico, na esperança da medida dos meus actos.
Porque eles me amam e logo depois de eu me postrar passam a ignorar a minha existência e tranformam-me naquela bela estátua de mármore de que sou feita nos seus podres olhares.
E vivo aqui na tortura do não saber aquele jogo que os conduz - aos mundanos cobardes.
Porque, ironicamente...só sei amar. Não sei jogar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O pião


Ele que gira e se pavoneia alegremente sob a ingenuidade e frescura dos seus amantes.

O pião, que traz a infância à memória escutada de um antepassado demente.

É a primeira imagem que vem na lembrança de clichés de amargura em câmara lenta.

Vemo-lo rodar e rodar e rodar, numa mistela cromática de suspensão e depois ir pesarosamente atingindo a meta de cair sem vida.

E quando o pião cai, morre o seu redundante público.

Fascinando os demais, o pião que gira e gira e gira, escuta os olhares abundantes de inocência trágica e pede mais.

E com a corda faiscante, os leitores de suas rúbricas gravadas no chão de pedra movem-no para esse terreno sólido outra vez e voando ele roda e roda e roda, até morrer de novo.

As crianças têm a pura bondade e o mais malévolo impulso, e assim, construindo a passagem para a humanidade social, elas influenciam-se deixando o seu inocente pião, sinal da fertilidade da sua pureza.

E o pião gira e gira e gira, até cair para não mais se erguer.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A minha clave


A clave que eu criei mentalmente, transformou-me fisicamente.
Naquela enigmática, triste e enfadonha tarde de uma quarta-feira esteticamente podre, o que sou foi total e irreversivelmente tranformado numa simples imagem: uma clave de sol.
A minha clave, que me trouxe a minha estabilidade.
Quando a metamorfose terminou estava canalizada para a música. Era música. Pura e Perfeita.
E ela estabeleceu-se no meu corpo percorrendo todos os meus traços, perdendo-se nas curvas e criando oitavas de tons complexos e brilhantes...
Tenho-a sempre comigo agora...Em todas as minhas pulsações.
Diariamente contemplo-a...olho a minha clave, que posso chamar sempre minha.
E sei que não haverá nenhuma tão perfeita em todo o seu sentido como a que me pertence.
Serei muda e cega e não conseguirei andar. Mas surda nunca, porque a tenho sempre comigo, no meu andar, na minha ofuscante respiração de leveza crua.
O resto, dir-me-ão aquelas tortuosas horas.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

É mentira!


Será mentira tudo o que me rodeia? Os meus passos diários e a minha continua vivência que sobrevoa o que sou sem me acenar...
Faço os possíveis para compreender, observar...mas é de facto o interesse que manipula estes meus espectadores. São um público fascinante, mas sem rodeios. Ou com já subtis rodeios que envoltam e me conseguem mentir.
É mentira o que vejo e o que faço ver.
Então, se esse público é um descarado mentiroso, porque é que eu não faço parte dele?
Não sei mentir, mas terei de aprender.
Ontem, mentir era a desonra.
Hoje, mentir é o caminho certo.
Amanhã, mentir será honra.
E eu...eu que vivo hoje estou a viajar no ontem de amanhã.
Ah que pelintras me olham com lágrimas de sangue seco.
E eu...eu que me acanhe e que crie um escudo de algodão.
Simplesmente porque NÃO SEI A ARTE DE MENTIR!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

E Fui Salva...


Salvou-me e integrou todo o meu corpo, mente e alma.
Apareceu mínimo de espectativa.
Veio e criou um sonho lavrado.
Chegou combatendo fantasmas.
Integrou melhorando a distracção de roturas.
E fui salva...
Ó venerável, religião de energia e árduo talento.
Salvaste-me de todos os males intrinsecos.
Vigias-te a minha negra noite na bruma suja que me acolheu.
Só vivo por ti e sobrevivo em ti.
E fui salva...
Dioniso resguardou o seu olhar para compreender o meu chamamento.
E assim corri para ele impulsionada de lesões mágicas e tormentos de felicidade atroz.
Em ti todas as utopias são verdades e todas as verdades são mentiras.
A falsidade em ti é a mais verdadeira emoção e todo o sentimento é corrente de voz.
Poderei fingir sem medo de cair naquela cave de trigo encharcado.
Sairei e entrarei quando me apetecer.
E fui salva...
Sussurrei para me não ver ali, mas como por sobrenatural caí.
E caí tão bem...tão leve.
Transformei-me nesta pena de chumbo.
Só tu me ocupas a felicidade.
E fui salva...
Salvaste o que não podia ser salvo.
Invoco tudo o que vem de ti.
Males e tudo o bom.
Invoco todos os deuses que te vivem.
Venero-te salvador da minha impossível alma.
E fui salva...
Eu...Eu morria por ti. Eu vivo por ti.
E estou salva...


Anjo Descuidado

Crias-te a veemência conjunta de poder comum e fascinas-te a minha criação.
A nossa paixão, que faz a nossa existência é o que nos uniu nesta experiência de gratidão.
Esse teu altruísmo puro de aproveitamento e essa tua insegurança fascinante e irritante que colecciona anéis de vaidade.
És a liberdade dos seres vinculados de amor e ódio.
Volta-te belo anjo descuidado.
Tens este descuido como uma roseira criada.
Vim e convidei a confiança a desconfiar dela só.
Agora só tens que mentir e verás as costas do teu Satanás cuspido.
É assim, meu anjo negro. Assim é, esta existência dura que não amolece.
Mas tens esse segredo de agonia, esse talento de viragem que te fará perder. Ou vingar...
Agora...
Vai-te!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Lamentos


De que servem esses arrojados benfeitores?

Se lamento a existência sou um adolescente em crise ou um poeta reformado.

Se lamento a utopia de gerações sou um velho esmifrado de certezas incertas.

Se lamento a genialidade das mentes sou um pseudo intelectual frustrado.

E o que sou e o que lamento no final? As intenções exigidas serão prantos de agonia adversa?

As linhas correm-me como me escorre a água pela goela abaixo. Toda certa e toda avançada de tristeza por inquietação.

Lamentarei tudo, e só o nada poderá vir de encontro a mim.

Viverei em constante desalento de lamentações por negar o meu próprio lamento.

Assim serei a mais feliz das espécies, representando a minha pela beleza de carácter.

Vejo-me assim neste espelho de contradições sem fim. Infinitas vezes traindo-me nos meus princípios principais.

E lamento a única linha: Eu.

Cobardia de Romance


Conspurcadamente me traiu. Ele ou você, esse mal em que tanto desejo entrar.

Porque me fez o que eu desesperava? Por eu o manipular de incerteza?

Assim ele que venha a entrar em mim, estás convidado ó anjo de beleza traidora.

Tenho que limpar o fruto que assim me olhas sensualmente. Mas porque continua ele a olhar-me assim?

Nem distingo o pudor sensual da imposição sexual.

Serão os meus lamentos interiores um simples capricho de conexões carnais?

Oxalá fosse você, o meu menino, que me detivesse como princesa.

Mas continuaste a desprezar-me. Fá-lo e nunca pares.

A minha humilhante ideia faz-me querer que me odeies. Que não me olhes apaixonado. Olhe-me só eterno. Mas vazio.

Retoma o efémero vinil de saudade.

Ah, saudade é o mesmo que mentira.

Se ao menos a mentira não fosse tão próxima do desejo.

Não quero mais ãos!

Os ãos já enjoam. Estou farta de ãos inacabados que me voltam a enganar.
Se fica bem é porque nao é puro. E ser impuro impedirá um ão de abortar?
Se os ãos me perseguem para me trairem continuamente eu em vÃO, irei voltar ao prometido.
Só os ãos me dÃO o prazer de dizer que nÃO.
Um bem social é algo alheio à pureza.
3 é um bem puro. Ou um mal social. Porque o Teatro só é bem visto de fora, mas lá metidos já é corrupto.
2 é um bem social. Ou um mal puro.
Bem vindo ao mundo dos ãos que arrebataram a sociedade.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Véu


O véu que eu criei lançou-me nesta soturna tempestade de remorso.

Aquele véu que não me protege, mas que me acolhe na mentira jocosa.

Vejo-me assim: vestida de louvoures mas despida na solidão de permanente contacto humano, com o meu véu que oscila em desabridas cores de vaidade e petulância.

Vejo-me assim, mas revejo-me no espelho que me cobre o véu do rosto.

E nesse espelho há um corvo.

Um corvo preto com bico e patas de prata polida em vão.

Olho o infeliz pássaro que me vem entregar o véu. O odioso véu do orgulho. Da culpa. Da insensatez.

E como num silêncio, ele cobre-me.

Escondo-me assim, para não mais me ver.

Agora encontro-me tão só, que nem uma inteira população me ouvirá.

O adeus é desnecessário, porque não há a quem o pronunciar.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Utopia

A felicidade é uma utopia de costumes que se baseia em contradições.
Não faz sentido procurarmos a felicidade visto a impossibilidade permanente desta.
Não vale a pena coexistirmos. A existência só vale algo se for vivida na solidão.
É impossível dois seres humanos viverem em harmonia. A harmonia entre duas almas não existe. É mais uma utopia de costumes.
A rotina muda o discernimento das pessoas. As prioridades.
Conclusão?

Horas


As horas são tormentos que ficam

As horas, que prosperam, magoam

Horas são as que brilham num baço olhar velho

Vêm conjuradas num balanço em que vejo as flores dinamizadas

túlipas narcisos assussenas leves

criadas na matemática vigilante

que entristece na noite pálida

As horas, aquelas malditas horas

que me obrigam a enfrentar a minha ridícula realidade


Vai-te

Sume-te daqui hora estúpida

acolhe-te na tua crua verdade desdita


Sou capaz de implorar:

Horas, saiam!

Palavras


Quais são as palavras que habitam o tudo?
São as que regem o nada?
As que finalizam?
Se nas palavras virmos a esfera que circunda a vida, vimos o conjunto das palavras que nos destróiem.
Seremos heróis se amarmos as palavras?
Temos que encará-las para as vivermos...ou é mentira
descalça espezinhada e encolhida
por causa das palavras tudo foge e tudo regressa
o regressar não é vir
é partir em cobardia e voltar em agonia
Se comunicamos por palavras, mentimos ao mundo
Elas não são para falar ou ler ou escrever ou pensar
são para ser
Simplesmente Ser
Sem questões ou dúvidas
palavras que sejam que admitam e que sintam o seu sabor
Mário, William e Hamlet foram as palavras
Os adultos não o são.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Erros

É de facto com os erros que se aprende. Podemos elaborar meros detalhes com sacrifício, que este raramente vale o esforço.
Perdi uma futilidade mágica na minha vida, à qual raramente tenho acesso pela pura bondade. Mas se a bondade é um meio para atingir a crueldade, para quê seguir princípios? Não direi utilizar o fim, mas simplesmente não actuar. Não pensar. Não agir segundo a lógica.
Alguém que acompanho toda a vida, que conheço e finalizo, continua sempre a surpreender-me. Admito que terá sido a última vez, porque irei sempre esperar pelo mais raso nível e mesmo que atinja um altar um pouco mais altivo, não darei outras chances de medo jovial.
Foi a derradeira.